domingo, 30 de janeiro de 2022

O suave e preciso encanto da palavra saudade


Balada de la saudade y el corazón


¡La saudade portuguesa!...

¿Que es saudade, corazón?

¿Será la primera lágrima 

de nuestro primer amor?

Y el corazón, no sabiendo 

qué constestar, suspiró...”.

(Francisco Villaespesa, poeta espanhol).


No Dia da Saudade, 30 de janeiro, eis algumas considerações sobre a palavra que nos remete a muitos sentimentos: tristeza, lembrança e até mesmo felicidade (se a recordação for de momentos alegres).

Sobre saudade já se disse tudo, mas vou abordar as questões linguística e etimológica e opiniões recorrentes sobre o tema, tais como: "A palavra saudade só existe no português", “é vocábulo intraduzível para outras línguas”, ou “há termos ouĺ expressões semelhantes no significado em outros idiomas, mas não expressam, com tanta exatidão, o sentimento da saudade".

Fico com a última opinião: saudade só existe no português - e no galego ou galaico-português - mas é traduzível, sim. Tem, no entanto, mais encanto, precisão, exatidão e força não encontrados nas demais línguas.

As opiniões citadas eu as tenho ouvido  - e lido  - desde a adolescência, juventude, maturidade e, agora, velhice. Adianto  - e vou tentar demonstrar aqui: por isso, fico com a última assertiva: o encanto original da saudade portuguesa, brasileira, angolana, moçambicana, cabo-verdiana, guineense, santomense, timorense, equato-guineense (na Guiné Equatorial há falantes de português), macaense (nascidos em Macau, China, que ainda falam português) e goenses (nascidos em Goa, Índia, minoria de falantes do português).

Observem que o poeta espanhol, no poema acima, fez questão de dizer “la saudade portuguesa". Ele se refere à língua portuguesa, claro.

Não tenho jamais a pretensão de achar definitivo dizer: saudade é intraduzível, mas o português traduz melhor esse sentimento.

Meu objetivo é a discussão em torno de tema tão precioso para nós, falantes do idioma de Camões, Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Saramago, José de Alencar Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector (ucraniana naturalizada brasileira desde a infância), dentre tantas/os outras/os luminares do vernáculo.

Leitor voraz desde 12 anos de idade, sou um curioso de etimologia, semântica. Quarenta anos de prática jornalística diária me levaram a esse interesse sobre a origem, significados e mudanças sofridas pelas palavras através dos tempos.

Daí me veio a ideia de escrever este texto sobre saudade, tendo como gancho o Dia da Saudade que se comemora em 30 de janeiro. 

Segundo o Dicionário Etimológico (on-line), saudade “é palavra típica da nossa língua (! )”. ...o ponto de exclamação é meu...”vem de “soedade", que já foi “soledade", e que por sua vez provém do latim “solitate". Acrescentaria “solitas” (de onde vem “solitate".

O dicionário Aurélio assim a define:

"Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.

 O Dicionário Michaelis tem cinco definições, para o sentimento e até para planta, pássaro e estilo de canções com o nome saudade. Vamos à que nos interessa: “Sentimento nostálgico e melancólico associado à recordação de pessoa ou coisa ausente, distante ou extinta, ou à ausência de coisas, prazeres e emoções experimentadas e já passadas, consideradas bens positivos e desejáveis".

A palavra saudade resume toda essa variedade de sentimentos em sete letras. Se você sentir recordação melancólica de alguém basta enviar a esse alguém a seguinte mensagem: “Saudade". Precisa dizer mais alguma coisa? É intraduzível? Não. É “apenas" difícil de ser traduzida se procurarmos uma única palavra em outro idioma para expressar o mesmo sentimento. 

A empresa Guildhawks (ex-Today Translations) considera “saudade"a sétima palavra mais difícil de traduzir em todas as línguas do mundo.

Napoleão Mendes de Almeida, no Dicionário de Questões Vernáculas indaga de maneira arrogante: “Que é "longing" em inglês senão saudade?” É saudade (mais ou menos!), mas significa também “desejo", “anseio".

Segundo a Wikipedia, uma tradução clássica em inglês é "the joy of grief (a alegria do sofrimento). Também existe "yearning". Popularmente, se usa muito em inglês a expressão: "I miss you" (estou com saudade de você).

Em francês, temos frase do tipo “tu m'a beaucoup manqué", isto é, “senti muita saudade de você". Quatro palavras, ou cinco, quando um falante do português diz para pessoa querida que não vê há algum tempo apenas: “Saudade”, ou, no máximo: “Que saudade”. Tem mais: o verbo "manquer" em francês significa, além de sentir saudades de uma pessoa, sentir falta de qualquer coisa. Exemplos: "je manque de place pour mettre tous ces meubles" (eu sinto falta de um lugar para colocar todos esses móveis). "J'ai pris du poids, je manque d'exercices" (ganhei peso, preciso de exercicios). Há ainda a palavra "désir", que também significa desejo, para traduzir saudade. Traduz?

No espanhol, há um vocábulo que se pode traduzir como saudade: "añoranza". "La añoranza por Granada perseguió al artista por toda sua vida" ("A saudade de Granada perseguiu o artista por toda sua vida". Não seria melhor nostalgia? Mas se diz também: "Yo te extraño" que significa: "Eu tenho saudade de você". Perdoem-me o trocadilho infame, mas é muito estranho. Também em espanhol, nostalgia  (pronúncia: nostálrria, os rr bem suaves e guturais) não traduz exatamente o sentimento de saudade. Sente-se nostalgia de épocas passadas, de situações vividas, mas de pessoas, não. A palavra nostalgia existe também em português. Ainda em espanhol existe "anhelo" (anseio, desejo, saudade?...)  

Vem o romeno (língua neolatina) com uma bela e sofrida palavra para expressar saudade: "dor" (pronuncia-se dór). Mas toda saudade é dolorida? Nem tanto. Há também boa saudade e até "saudade aliviada", quando alguém se sente bem com a ausência de pessoa incômoda, mas não nociva.  

Optei por citar as línguas (inglês, francês, espanhol e romeno) que já estudei, ainda estudo, leio, ouço e tenho contato. Umas mais, outras menos. Fica aberta a discussão.



* Paulo Verlaine Coelho é jornalista e escritor cearense.


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

CIENTISTA EDILSON PINHEIRO: AZEITONA PRETA TEM TUDO PARA SER O “AÇAÍ LIGHT” CEARENSE

Pés de azeitonas pretas em Fortaleza dão sombra e produzem frutas

O cientista (farmacêutico-industral) Edilson Pinheiro Peixoto declarou, em entrevista ao editor do blog Coluna da Hora, que a azeitona preta (conhecida também como jamelão ou jambolão) tem tudo para ser o açaí cearense.
“O jambolão (azeitona preta) é mais dietético, podendo ser mais saudável que o açaí. A Embrapa e Unicamp vêm estudando o jambolão e aos poucos vai aumentar o interesse comercial”, disse Edilson Pinheiro.

Eis a entrevista:
Paulo Verlaine - A azeitona preta – assim chamada no Ceará – é fruta muito conhecida de todos. Qual o motivo de não ser valorizada neste Estado nem em outras regiões do Brasil? Não se vê ninguém a fazer ou a vender suco de azeitona. Poderia explicar os motivos desse descaso.

Edilson Pinheiro - A azeitona preta ou roxa, ou diversos outros nomes como se diz no Ceará é consumida pela população, sim, mas ainda pouco. Em Fortaleza, temos uma única banca no mercado São Sebastião vendendo a fruta(banca do Sr. Raimundo Moreira, 77 anos, 45 anos de Mercado São Sebastião). É muito pouco. Em frente à agência dos Correios na Cidade dos Funcionários (bairro de Fortaleza) não sobra uma fruta nos pés. O guardador de carros tira para quem procura. E assim existem mil histórias. Tenho conseguido azeitona roxa, ou jambolão, do Trairi, Caucaia e Cascavel. Existe já polpa disponível na Internet, inclusive a um preço mais caro que as outras e com boa propaganda das antocianinas. Conversei com o dono da Frute em Caucaia e ele prometeu lançar a polpa este ano. Falta uma maior compreensão dos benefícios que ela traz a saúde.


 
 Edilson Pinheiro Peixoto (d.) com único vendedor 
de azeitona preta no Mercado São Sebastião, 
Sr. Raimundo Moreira.

PV - Sabemos que a azeitona preta não é uma fruta nativa, mas se aclimatou muito bem em quase todo o Brasil. Na condição de especialista, poderia nos falar mais acerca desta fruta: as origens, o histórico; como chegou ao Brasil, em quais regiões brasileiras ela se aclimatou melhor.

EP - Não há históricos muito específicos. A planta veio da Índia, não na época do chamado descobrimento do Brasil pelos portugueses, e sim posteriormente. Há relatos de que foram plantadas nas cidades como árvores ornamentais, para sombreamento, tão queridas no nosso Ceará. Como muitos outros tipos de planta ela é subexpontânea, ou seja, se aclimatou bem e tem se expandido naturalmente, acredito que menos no Sul do Brasil. O mais importante é que está aqui e tem semelhanças, de fruta, com as nossas como açaí e jabuticaba. Na Índia é conhecida como fruta dos deuses e é consumida em natura e como geleia.

PV - Em termos específicos do Ceará, em quais regiões é mais encontrada a azeitona preta?

EP - Como já citado, mais comum no litoral, mas no sertão também. É uma árvore frondosa alcançando altura que chega próximo da manga, devendo ter forte enraizamento para sua nutrição, portanto podendo sobreviver em áreas mais secas. É mais comum em baixios, beira de rios ou riachos, ou seja, onde a tem maior probabilidade de água no subsolo. Jaguaribe, no sertão possui alguns pés.

PV - Poderia discorrer, em termos científicos, mas em linguagem acessível à maioria dos leitores, claro, sobre a composição da azeitona preta?

EP - A composição completa da azeitona preta (roxa) ou jambolão (sou favorável a que usemos mais esse nome porque é mais universal) ainda está em estudo. O destaque é para antocianinas que é um nome que vem de ciano (roxo), a cor natural das antocianinas aqui, da jabuticaba, do açaí, das uvas, do repolho roxo, acerola, etc. Alguém já se perguntou como uma fruta aguenta tanto sol nas plantas e não se degrada. Só os trabalhadores são praticamente obrigados a aguentar sol trabalhando, se desidratam, queimam a pele, criam vários tipos de câncer por um processo chamado oxidação que é acelerado pelo sol. Isso pode ser entendido também como envelhecimento rápido. Quem protege as frutas também são os antioxidantes próprios que ela produz: vitamina C, clorofila, licopenos e antocianinas principalmente. O jambolão (azeitona preta) também possui açúcares que são nutrientes essenciais na nossa alimentação. Gostaria que ao longo do tempo as palavras antocianinas e licopeno (cor vermelha) fossem incorporadas ao conhecimento popular como vitamina C ou clorofila.

PV - Fale-nos mais sobre antocianinas e outros componentes. O que isto significa  e quais os benefícios para a saúde humana.

EP - Tenho um pé de acerola em casa e todos os dias tomo uma garrafa (600ml) de suco  e tenho uma pele super saudável para a minha idade (65 anos). Acerola possui bastante vitamina C e um pouco de antocianinas. Pratico exercícios todos os dias e quando praticamos exercícios nos oxidamos mais (a chamada respiração celular). O suco restabelece tudo. Diariamente envelhecemos por oxidação, retardar isso e gerar bem estar é o grande forte dos antioxidantes e, em absoluto, não precisam ser artificiais. São mais caros (farmácias) e podem conter composições indesejadas. Os estudos estão avançando mas esse é o principal e fortíssimo benefício à saúde. Com certeza nos próximos anos teremos produtos cosméticos, principalmente para a pele e cabelos, lançados no mercado pois as antocianinas possuem um potencial de antioxidação 20 vezes maior que a Vitamina C que já é muito boa.
PV- Já dissemos que a azeitona preta é encontrada com muita facilidade no Ceará. Quais seriam então as melhores maneiras de se explorar a fruta sem impactos ambientais e sem prejuízo para a flora nativa deste Estado?
EP - Não há questões ou problemas ecológicos com o cultivo do jambolão a não ser nas cidades se não retiradas as frutas em tempo como está acontecendo em Goiânia, elas caem e tornam o chão liso. Só consumir em tempo e será corrigido o problema. Ela é uma árvore frondosa que vai contribuir para o sistema ecológico.

PV - Em termos bem práticos, como a azeitona preta poderia ser aproveitada pela população cearense. Sucos, sorvetes ou outras formas de consumo? Poderia chegar ao ponto de ser o “açaí cearense”?

EP - O açaí parece que ganhou mais popularidade por ser energético. Embora sejam muito semelhantes em fruto e cor, terão sentidos diferentes, mas semelhantes quanto a antioxidação. O jambolão (azeitona preta) é mais dietético, podendo ser mais saudável que o açaí. A Embrapa e Unicamp vêm estudando o Jambolão e aos poucos vai aumentar o interesse comercial. Podem ser feito sucos, geleias, sorvetes, musses, etc não terá o inchamento do açaí pela falta de lipídios certamente. Uma forma muito saudável do jambolão é o desenvolvimento de sua polpa, ainda timidamente existindo no mercado. Qualquer preparação que não mude a cor roxa das antocianinas é saudável. As preparações a frio e em pH ligeiramente ácidos são mais conservadoras das antocianinas. O uso de limão ou ácido cítrico adicionado a qualquer preparação também vão garantir sua maior estabilidade.
Eu apostaria de primeira mão em dizer que podemos ter o “açaí dietético ou ligth cearense”.

PV - O grande problema da azeitona preta é a sua alta perecibilidade. Quais medidas você indicaria para enfrentar essa dificuldade?

EP - Esse realmente é um problema, mas o açaí tem o mesmo problema. Uma das soluções é a velocidade entre a colheita e consumo ou preparação de polpa, pois na polpa é estável se esta for mantida em baixa temperatura como “freezer”. Poderá se aplicar formas de colheita em isopor para abrandar o efeito perecível do calor. As frutas poderão ser conservadas diretamente em “freezer” por até dois anos, tempo mais que suficiente entre uma colheita e outra. O custo sai um pouco mais caro, mas você terá a fruta o ano todo como é feito na minha casa.

PV - O que o Governo do Ceará, as universidades, principalmente as públicas, poderiam fazer para resgatar a azeitona preta e aproveitar as suas potencialidades?

EP - O governo pode muito: o Ceará possui Universidades capazes de aprofundarem diversos estudos no assunto no sentido de inserir o jambolão na mesa do cearense ou brasileiro. A Embrapa pode desenvolver árvores pequenas para serem plantadas em quintais. O governo precisa antes de tudo ter vontade e divulgar o assunto com o peso de "marketing" que possui. Acho que os investimentos poderiam ser muito pouco para estimular a iniciativa privada ou o próprio estado ou prefeituras (através da merenda escolar, por exemplo) a aderir ao “açaí light cearense” e em breve futuro estimular o consumo em todo país. As cabeças precisam se abrir para o assunto senão, logo estaremos recebendo antocianinas da França, em cosméticos ou outras formas pelo “precinho bom” que eles costumam oferecer.


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Livro "A Mais Longa Duração da Juventude", de Urariano Mota, será lançado em janeiro em Fortaleza


A Mais Longa Duração da Juventude --romance com base em fatos reais – do escritor pernambucano Urariano Mota, com destaque nacional, chega no momento oportuno: hoje, saudosistas da ditadura militar (1964-1985) – ou pessoas que nunca viveram aquele período opressivo – acham que a melhor solução para os problemas do Brasil é a intervenção das Forças Armadas. 
      O livro deverá ser lançado em Fortaleza em janeiro próximo, em dia, horário e local ainda a serem definidos. Já houve lançamentos no Recife e em São Paulo.
     Publicado pela editora LiteraRUA, com 318 páginas, A Mais Longa Duração da Juventude, lançado neste ano de 2017, já está na segunda edição. É o retrato do País nos anos de chumbo, na década de 1970, no auge da ditadura militar, onde imperavam o medo, a tortura e os assassinatos de opositores do sistema vigente.  Escrito na primeira pessoa (um personagem fictício que tem muito a ver com o próprio Urariano) há também momentos de amor, ternura, música (I Wonder Why, cantada por Ella Fitzerald, é leit-motiv, ou tema recorrente, no livro), sexo e companheirismo. Tudo isso no texto escorreito, leve (sem ser banal) e criativo de Urariano Mota. É também um mergulho no Recife dos anos 70: as pontes, pensões, cabarés, comidas típicas e a paixão que todo recifense tem pela capital pernambucana.
     Não obstante tratar de temas pesados, o livro passa mensagem de otimismo nesses tempos do outro golpe, não o militar, de 1964, mas o judicial-legislativo-midiático de 2016: a juventude duradoura dos anos 60 se renova nos jovens de hoje, não nos sem-cérebro e debiloides bolsonaristas e integrantes do MBL, mas, nos estudantes que foram às ruas lutar por melhores condições de ensino, defender o mandato da presidenta Dilma Rousseff e protestar contra o “presidente” golpista e usurpador Michel Temer.
      Disse o autor ao jornal Diário de Pernambuco: “A primeira coisa a destacar é a seguinte: eu não procurei escrever somente sobre a ditadura. Quando eu estava indo visitar pensões onde morei, vi uma passeata de adolescentes protestando com bandeiras por uma educação melhor. Foi quando me ocorreu o fato de que havia uma duração mais longa da juventude. Quem esteve na clandestinidade e foi ao limite da entrega da propria vida está nesses jovens das ocupações de escolas e universidades”.
O autor – Urariano Mota é autor dos romances Os corações futuristasSoledad no Recife (baseado na vida da guerrilheira urbana Soledad Barrett, assassinada no Recife), e O filho renegado de Deus, além de Dicionário Amoroso do Recife, um guia sentimental da capital pernambucana. É também colunista do Portal Vermelho, do pornal GGN e do site Brasil 247.
Selene (Mirtes) – Entre alguns personagens fortes, masculinos e femininos, duas mulheres (Selene e Soledad) se destacam na narrativa de Urariano Mota: Selene, 18 anos, líder estudantil e diretora da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Selene é, nada mais, nada menos, do que Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira, estudante secundarista que, em 1968, liderou a chamada “Revolta das Saias”, em Fortaleza. Isto não é dito no romance, mas quem conhece a trajetória da Mirtes, identifica-a de imediato, principalmente nesses dois trechos do romance:
    “Selene possuía  apenas 18 anos de idade, e com tão pouco tempo de vida, discorria sobre a política nacional e clássicos do marxismo. Como ela conseguia ser tão precoce?”...
     ..."Selene era suas coxas porque nelas estava, por um lado, impressa a sua luta um pouco mais abaixo nas feridas conquistadas na batalha da Maria Antonia".
     A personagem real, Mirtes Nogueira, foi ferida com queimaduras causadas por ácido sulfúrico jogado nas suas pernas, no episódio que ficou conhecido como a “Batalha da Rua Maria Antonia”, no ano de 1968, em São Paulo (SP): a luta entre estudantes (esquerdistas) da Faculdade de Filosofia e os alunos da Universidade Mackenzie (direitistas).
O leitor encontrará os detalhes na revista Carta Capital (12/2/2013). Eis o link: https://www.cartacapital.com.br/politica/o-instinto-da-loba-e-a-batalha-da-maria-antonia.
Soledad Barrett – Soledad Barrett não tem pseudônimo. Aparece no livro com seu verdadeiro nome. Paraguaia, guerrilheira urbana e integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Soledad foi assassinada, juntamente com mais cinco pessoas,  pelos serviços de repressão da ditadura militar, no Massacre da Chácara de São Bento, em Goiana (PE). Os seis foran denunciados por um integrante do grupo, o famoso traidor Cabo Anselmo. Trata-se da parte mais dolorosa do livro. Mas o importante é o leitor tirar suas conclusões.

sábado, 21 de outubro de 2017

Ração humana que prefeito João Dória quer dar aos pobres faz lembrar o filme Soylent Green


     Ao ver vídeo postado pelo meu primo alagoano  Jorge Briseno sobre a “ração humana” que o prefeito de São Paulo João Dória quer distribuir para a população pobre me lembrei de algo assustador. Nos anos 70, assisti a um estranho filme de ficção científica americano: Soylent Green (de 1973, dirigido por Richard Fleischer). Título no Brasil: No Mundo de 2020; em Portugal: À Beira do Fim.
     O enredo é o seguinte: numa época futura (para a década de70) o mundo se vê às voltas com uma superpopulação  e, consequentemente, falta de alimentos.
     Em Nova York, autoridades, em parceria com um grupo econômico privado, encontram “solução milagrosa” para aplacar a fome da população carente: a fabricação de um alimento verde, em forma de tablete, chamado Soylent Green. O tal alimento era destinado apenas à ralé. Os ricos continuavam a comer carne, arroz, frutas e legumes (produtos raros e caros).
     Para o público externo a informação é a de que o Soylent Green tinha, na sua composição básica, algas marinhas verdes. Mas algo estranho se esconde por trás da fabricação do misterioso alimento. Um executivo da empresa fabricante do produto é assassinado  e um policial, interpretado por Charlton Heston, começa a investigar o homicídio, juntamente com um parceiro veterano.
     A dupla descobre uma coisa tenebrosa sobre o verdadeiro ingrediente do Soylent Green.Não conto aqui porque aprendi com meu amigo e colega Plínio Bortolotti que jornalista não deve revelar em público final de filme. Talvez a produção possa ser encontrado ainda nas locadoras, mas é mais fácil achá-lo na internet. Fica a dica.

domingo, 1 de outubro de 2017

Dêem-se a respeito! PT e PCdoB deveriam deixar defesa do mandato do Aécio Neves para o PSDB e a quadrilha do Temer.

     Tenho “erros, pecados e vícios”. Sou passional e destemperado nas críticas. Isso me tem feito ganhar inimigos e perder alguns amigos no festival de ódio a que está entregue o País há mais ou menos cinco anos. Quando erro, peço desculpas ou retiro a postagem, no caso de redes sociais. Se digo a verdade, mantenho a crítica. Não sou, no entanto, “soldadinho de chumbo” de nenhum partido politico (PCdoB e muito menos do PT ou qualquer outro partido de esquerda). 
     No caso da suspensão do mandato de Aecio Neves a polêmica tomou conta do Facebook. Posicionei-me a favor da medida, isto é, contra a permanência de Aécio Neves no Senado Federal. Aécio Neves não tem nenhuma condição legal e moral para permanecer naquela Casa do Legislativo.
Entre os que eu tenho debatido, quero ressaltar a postura equilibrada e lúcida da professora Sandra Helena Souza (o que não é novidade. Seus artigos no “O Povo” demonstram essas qualidades mais do que as postagens no Facebook). Quanto ao restante do pessoal de esquerda que defende o mandato do mineiro eu os considero, data vênia, meros “soldadinhos de chumbo” dos seus respectivos partidos.
     Quem são os principais responsáveis por esse ambiente de guerra civil? Os que não reconheceram a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014. Foram eles que interromperam a marcha da frágil democracia brasileira em busca da consolidação institucional e do Estado Democrático de Direito, fantasia que nunca existiu neste País. Aqui a justiça sempre continua a castigar os três pês: pobre, preto e puta. Foram eles que entregaram o Brasil a Michel Temer e sua quadrilha de ladrões para estabelecer o desmonte da dignidade nacional, a venda das riquezas e empresas nacionais e a destruição de conquistas sociais dos trabalhadores adquiridas depois de décadas de muitas lutas.
    Parafrasearam Carlos Lacerda (gênio do mal, jamais um tabaréu) contra Getúlio Vargas. Para eles, Dilma Rousseff não deveria ser candidata à reeleição, se candidata não deveria ser eleita, se eleita não deveria tomar posse, se empossada deveria ser derrubada. Esqueceram, todavia, de combinar isso com o povo, o eleitorado brasileiro. Dilma foi reeleita. Então passaram para a última fase: o desencadeamento do golpe, há muito tempo planejado. A história todos já conhecem, principalmente o espetáculo circense (mambembe) da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados e, depois pelo Senado (um pouco mais recatado na safadeza).
     Entre essas figuras escabrosas um deles se destacou desde o início: Aécio Neves, o candidato derrotado, inconformado, passou a destilar ódio pelo País inteiro. Hoje, tal qual um ridículo aprendiz de feiticeiro, colhe o que plantou. PT e PCdoB deveriam deixar a defesa do mandato dele ao PSDB e à quadrilha do Temer. DÊEM-SE A RESPEITO!

terça-feira, 30 de maio de 2017

Viagem por quem sabe amar uma cidade, diz Mapurunga sobre o Dicionário Amoroso do Recife, de Urariano Mota

O escritor, poeta e dramaturgo cearense José Mapurunga fez, a pedido deste blog, comentário sobre o livro Dicionário Amoroso do Recife, de autoria do escritor e jornalista pernambucano Urariano Mota.
     José Mapurunga é autor de mais de 20 peças teatrais, entre as quais Farsa da Panelada, Auto da Camisinha e Auto do Rei Leal. A Farsa do Panelada foi premiada no 2º Concurso Nacional de Dramaturgia - Prêmio Carlos Carvalho, da Prefeitura de Porto Alegre (RS). Recentemente lançou o livro Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, em Fortaleza e na própria Viçosa, terra natal do autor.
O pernambucano Urariano Mota é autor do livro Soledad no Recife, onde narra os últimos dias de Soledad Barreett, mulher do cabo Anselmo, entregue pelo dedo-duro à repressão e assassinada. Seu último livro é O Filho Renegado de Deus, primeiro lugar no prêmio Guavira de Literatura 2014.
Eis o comentário de Mapurunga sobre o livro de Urariano Mota,
      
    Recife, cidade das maravilhas
             José Mapurunga

     Chegou às minhas mãos, emprestado pelo Paulo Verlaine, o Dicionário Amoroso do Recife, de autoria do escritor e jornalista Urariano Mota. Não houve verbete que deixei de ler. Na excelente prosa do autor, fiz uma viagem ao Recife profundo, a uma cidade de maravilhas, talvez perceptíveis apenas por quem sabe amá-la, e/ou porque quem sabe desfrutar o prazer de morar em uma cidade: ou ganham a vida ou frequentam os mercados públicos tradicionais, repletos de presença de espírito; os que se dedicam à arte, como o fotógrafo guiado pelo instinto, ou o escultor que criou para si um mundo ideal, ou o gênio rebelde do violão, ou os poetas para quem o que mais importa é a poesia, como aquele, de nome Valmir Jordão, que pede em versos para que não culpem às putas pelo comportamento nefasto dos filhos. Um Recife de frevo, de foliões famosos e anônimos, talvez o melhor carnaval do mundo, certamente sim para os que o brincam. No mais, a cidade com seus heróis populares pouco reconhecidos, mas realmente heróis.
     Points que os turistas tanto gostam são pouco citados no livro, no entanto o autor, de forma amorosa, homenageia o bairro Zumbi, além de festejar botequins, teatros, igrejas barrocas, bem como a sinagoga que dizem ser a mais antiga das Américas, e o Terreiro do Pai Adão, consagrado a Xangô, em funcionamento desde 1875. No Recife amoroso de Urariano, celebridades como Gilberto Freire, Joaquim Nabuco, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Ariano Suassuna e Reginaldo Rossi dividem páginas com outras pessoas caríssimas ao coração da cidade.



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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Mapurunga lança livro e recebe homenagem em Viçosa do Ceará

O lançamento do livro Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, do escritor José Mapurunga, transformou-se também em homenagem ao autor na sua terra natal, graças à iniciativa do secretário municipal Aníbal José Sousa (Cultura e Meio Ambiente), com apoio do prefeito Firmino Arruda, de Viçosa do Ceará.
O Teatro Pedro II, local do lançamento-homenagem, viveu, a partir das 20 horas de sábado último (29/4), momento de muita emoção, em acontecimento que reuniu autoridades, escritores, historiadores, parentes e amigos de José Mapurunga. A secretária de Educação Andrea Ribeiro representou o prefeito Firmino Arruda na solenidade.
     Na abertura, o secretário Aníbal José Sousa ressaltou a importância do evento, enalteceu a carreira literária do autor e o trabalho de pesquisa histórica e resgate sentimental do livro. Declarou que o lançamento poderá dar início a outros atos culturais no histórico Teatro Pedro II e conclamou a comunidade viçosense a prestigiar aquele espaço de valor histórico, cultural e sentimental.
A professora Teresa Cristina Mapurunga Miranda Magalhães, prima do autor, também se referiu à trajetória literária de José Mapurunga, escritor e dramaturgo reconhecido nacional e internacionalmente (a peça teatral O Auto do Panelada foi encenada em Maputo, capital de Moçambique), ao mesmo tempo em que destacou a ligação sentimental do escritor com sua terra natal.
     A apresentação oficial de Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará esteve a cargo de Tiago Peres Reial que mencionou vários trechos do livro, destacando aspectos históricos, culturais, geográficos, sociais e curiosidades (lendas e narrativas populares) do município apresentados, no livro, em ordem alfabética.
HOMENAGEM A ZÉ MÚSICO
     Momento especial foi a dupla homenagem prestada a Mapurunga e a José Alves Ferreira, o Zé Músico, notável seresteiro e violonista de Viçosa do Ceará, já falecido, a quem é dedicado um capítulo do livro.  Mairton e Francimário Ferreira, filhos de Zé Músico, também instrumentistas, compareceram à festa literária no Teatro Pedro II, com outros colegas. Na ocasião, apresentaram números musicais para a plateia.
     Heloísa Mapurunga, outra prima do escritor, cantou, no palco, acompanhada pelos músicos, dois verdadeiros hinos viçosenses: uma marchinha carnavalesca, de autoria de José Mapurunga, sucesso durante vários anos nos bailes carnavalescos da cidade; e a canção Saudade, sempre cantada por Zé Músico nas serenatas que começavam embaixo da estátua de Clóvis Beviláqua, na Praça da Matriz, narrada no Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará. A música, gravada inicialmente em ritmo de valsa pelo paulista Jayme Redondo no ano de 1929 foi adaptada posteriormente para um estilo mais alegre, transformando-se em samba. Era nesse último ritmo que Jayme Redondo a cantava.
     A secretária de Educação Andrea Ribeiro fez uso da palavra e disse de sua grande alegria de desempenhar a missão de representar o prefeito Firmino Arruda na solenidade, ela, que também é prima do escritor e homenageado. Ela recebeu, na ocasião, o livro das mãos de José Mapurunga.
      O historiador Gilton Barreto, autor do livro Viçosa do Ceará Sob Um Olhar Histórico, fez aprofundada análise de Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, contribuindo para abrilhantar a noite de sábado último no Teatro Pedro II.
No final, um coquetel foi servido aos presentes no pátio do teatro.